9.6.06

Patrícia


Era loura e tinha uns olhos em amêndoa, que lhe dava um ar selvagem.

Ela andava noutra turma e já nem me lembro como é que reparei nela... Rebuscando nas memórias acho que é capaz de ter sido no refeitório. Também uma pessoa com 12 anos ainda não sabe reter aquilo que vai ser importante.

Eu estava no 2º ano da Preparatória e estava muito bem! Pela primeira vez gostava de ir à escola, que era um sitio arejado, amplo, moderno e não aquele edifício escuro e labiríntico , quase Hogwarthiano, que era a Voz do Operário. A Eugênio dos Santos era completamente diferente!

Foi aí que tive os meus primeiros amigos, daqueles que nos escolhem para os trabalhos de grupo, mesmo quando nós ficamos, de propósito, quietinhos no nosso canto. Daqueles que nos convidam para as festas de anos (mas não iam às minhas... Fazer anos em Agosto é lixado!) Daqueles que nós, na nossa ingenuidade de 12 anos, acreditamos de vamos ter para toda a vida.

Também foi aqui que comecei a conviver com raparigas. Até então tinha feito toda a primária em turmas só de rapazes (Obrigado, Estado Novo!...) Na Preparatória descobri que havia outras raparigas para além da vizinha do lado ou da ocasional irmã do pessoal lá da rua.

A minha primeira impressão é que elas tinham uma letra esquisita, assim redondinha e muito certinha e todas tinham a mesma letra que escreviam nos mesmo cadernos cor-de-rosa ou às florzinhas. Para além disso gritavam muito, eram aplicadas nas aulas e não jogavam à bola, apesar de andarem em bando como nós.

Mas eram giras...

Eram tremendamente giras com aqueles cabelos compridos e uns olhos completamente diferentes dos nossos. Como os da Patrícia...

A Patrícia... Passei o ano lectivo todo a adorá-la de longe. Nunca lhe falei, apesar de o ter podido fazer em duas ou três ocasiões. Descobri-lhe o nome através de um colega que tinha um amigo na turma dela, mas nem mesmo assim arranjei coragem para lhe falar. E se a tivesse diria o quê?
Por isso limitava-me a adorá-la de longe. A dada altura a coisa passou a ser tão óbvia que já a escola toda sabia e ela passou a olhar para mim. Ás vezes ria-se ou sorria, o que me fazia disparar o coração a mil à hora, como quando eu ia apanhar uma bola que tinha ido parar (nem sempre por acaso...) mais ao pé dela.

No último dia de aulas, ao sair do portão, um amigo disse-me:
- Agora nunca mais a vês...
- Pois não! – disse eu sem olhar para trás.

Passados dez, talvez doze anos estava eu a passear no calçadão da Costa da Caparica, no meio da multidão que ia ou vinha da praia e vejo-a. Apesar do tempo passado, reconheci-a imediatamente e novamente o meu coração disparou. Um minuto depois ela já tinha desaparecido. Paralisado, também não lhe disse nada.

Foi nesse dia que aprendi que, apesar do tempo não voltar para trás, a vida dá-nos sempre uma segunda oportunidade. Se a agarramos ou não, já é outra coisa.

34 comments:

JPS said...

MR PONG: Por acaso acho que a beleza disto é precisamente tudo ter ficado sempre no campo da fantasia.

Anonymous said...

Zuco que belo post, também recuei no tempo e lembrei algumas coisas engraçadas dos tempos de escola. As patricias (têm todas um dom especial :p)!!! Adiante...
Eu tenho a minha opinião relativamente a isso de não perder esse friozinho no estomago mesmo passado tanto tempo e tenho pena que as pessoas não consigam manter essa ingenuidade da adolescencia nos amores. Qd isso acontece e sinal que a pessoa era realmente especial...
Bom fds beijinhos :)

JPS said...

OSPRAZERESDOSEXOORAL: Vai dizer isso a um míudo timido de 12 anos! A Zuka não é loura, é morena. Eu é que sou um eclético: Louras, morenas, riuvas, pintadas, gosto de todas. Mas morenas têm um Je ne sais quoi...

JPS said...

PATY: Pois é... Tu tambem és Patricia! :-D É importante não perdermos a capacidade de sermos ingenuos. De vez em quando gosto de ir ao báu das memórias lá buscar alguma coisa.

Felina said...

Eu não posso ter o mesmo prazer, de recordar um amor impossível! Todos os miúdos por quem "me apaixonei" sempre me deram feed-back... nem havia beijinhos, naquela altura, mas era tão bom... e, quando passou a haver beijinhos, era como planar no espaço sideral... que nostalgia! Mas não tenho saudades. De nenhum! Se calhar por nenhum deles ter sido impossível.
Guardo memórias, se me cruzo com algum deles no presente, o coração pode, eventualmente, disparar, alguns admiram a mulher que sou hoje, mas nunca, nunca conseguiria olhar para eles com os olhos daquele tempo. Nem que o tempo voltasse atrás... não troco o amor consolidado e lindo que construí, que continuo a construir, que vivo hoje, por nenhuma das emoções do passado!
Tal como tu...

Beijos doces e felinos, Amigo!

Aragana said...

Fizeste recordar do Jorge, o meu primeiro amor. Que olhava e longe.


Um dia conto as minhas histórias também!

Sabes do que tenho mais saudades dessa época? - O disparar o corãção a mil à hora.. só houve 1 homem que o voltou a fazer... (não, não é esse...)

Beijos para ti, para a Zuca e para a Zuquinha

JPS said...

FELINA: A levesa dos primeiros beijos...

ARAGANA: O coração a disparar é indiscritivel!

Avalon said...

Olá Zuco!
Vim hoje pela 1ª vez ao teu blog...e fiquei com um sorriso enorme qd li este teu texto!
Tb eu me lembrei da minha 1ª paixoneta de criança...
Fazia os possíveis para ir aos Domingos ao parque infantil, para o poder ver...

Já nem me lembrava que tb eu um dia tive o meu 1º amor!!!!
Obrigada pela recoradção e pelo excelente texto!!
Zuco e zuca ganharam mais um visitante no Vosso blog!!

Avalon said...

Olá Zuco!
Vim hoje pela 1ª vez ao teu blog...e fiquei com um sorriso enorme qd li este teu texto!
Tb eu me lembrei da minha 1ª paixoneta de criança...
Fazia os possíveis para ir aos Domingos ao parque infantil, para o poder ver...

Já nem me lembrava que tb eu um dia tive o meu 1º amor!!!!
Obrigada pela recoradção e pelo excelente texto!!
Zuco e zuca ganharam mais um visitante no Vosso blog!!

Anonymous said...

Kamarada Zuko, parabéns pelo magnifico post com que nos presenteias nesta sexta-feira.

De facto tens razão... O meu primeiro amor chamava-se Regina (despensam-se as analogias com o chocolate, que a coisa foi séria). Claro que eu pensava que aquilo era amor... Mas depois nunca mais a vi... e se a vir hoje não a vou reconhecer, provavelmente nem ela a mim, já passou muito tempo. E ainda bem que não nos reconheceriamos.

Mas gostei especialmente da "ocasional irmã do pessoal da rua". É uma daquelas expressões mágicas devido às potenciais interpretações dúbias da mesma. E tu Kamarada Zuko sabes o que eu gosto de interpretações dúbias... e de Aviadoras Bielorrussas... e de Halterofilistas Búlgaras.

De facto é tão bom voltar a esses tempos da ocasional irmã do pessoal da rua, das festas de anos sem luz, dos discos de vinil debaixo do braço só para o estilo, das meninas de soquettes, do perfume patcholit...

Apesar de tudo esses tempos foram engraçados, e recordar é bom, apesar de ter a certeza que não conseguiria reconhecer a Regina, mesmo que me recorde do seu sabor!

Anonymous said...

Que coisa linda, linda este texto!
Daqueles que nos fazem ficar com um sorriso parvo, tenho tantas saudades da idade da inocencia, dos dias de brincadeira e do Paulo Alexandre que era o miudo com quem eu queria casar... Aos 10 anos...
Amei o texto, tão veridico, tão puro, vou reler...
Beijos grandes, bom fim de semana.

Anonymous said...

Delicioso Zuko... :) ... quer dizer não é «delicioso Zuko» é ...delicioso post Zuko!!! ;)
Gostei mesmo.

Beijos (recatados) da Princesa

Alien David Sousa said...

Se a tivesses agarrado. A primeira ou a segunda. Não estarias hoje com a Zuka, e talvez quem sabe nem fosses feliz. Já pensaste nisso. Às vezes há oportunidades que mais vale não agarrar.
Fica bem zukinho

JPS said...

LADY AVALON: Muito gosto em a ter por cá, aqui neste pobre casebre de escudeiro. Folgo que tenha sorrido. É sinal de que foi vivido!

MSDOS: Hó meu maluco a ocasional irmã era porque no raio daquela rua só havia rapazes! :-D

MARISA: Escrevê-lo foi um vero piacere, cara. Obrigado pela releitura.

PLUMA: Deliciosa Princesa, Obrigado pelas tuas palavras...

ALIEN: Já, já pensei. Tanto que até escrevi um post acerca disso (e de outras coisas) há mais de um ano e que agora republiquei aqui ao lado, no DABESTOFF. Vai lá ver e depois diz-me qualquer coisa.

LADY PING: Obrigado pela tua recordação. Vamos todos torcer por Portugal, mas estou certo que o Mr Pong mais do que muitos... :D
(Quem quiser perceber só tem que ir ao blog deles e, se quiser, associar-se a essa forma de apoiar a nossa Selecção!)

RPM said...

olá cara linda!!!!

não, não,não....CARA LINDA é a ZUKA... lolololl!

olha Zuko, antes de continuar...coo está a tua linda Açoreana!!!!!??um beijo para ela...

e então vai aqui a expressão terceirense...

'olá cara linda e purfueita!', como estás!!!

relativamente não à Marilyn que via nos filmes, eu também tive uma LINDA, mas que LINDA gata....na minha primeira classe...

sim. sim. sim....Em Angola as turmas eram mistas e nunca sofri com a ausência delas.lolololl

saí da sala da pré-primária a meio do ano lectivo, depois de um exame realizado e com o meu Pai a assistir....e depois de fazer a prova de habilidade passei para a porta da sala ao lado e, coo puto de 6 anos, ía a chorar...nova turma, novos colegas.....novas colegas e EIS!!!!! EIS que ela estava na primeira fila, linda, LINDA, LINDA e pisca-me o olho ao me ver com os olhos brilhantes....a MINHA primeira NAMORADA, PAIXÃO...mais velha do que eu, mas que importa.........chama-se Quicas (nome de guerra), nome próprio MAGDA. MORENAÇA......

eis a minha confidência...depois de Angola, já nos encontrámos cá, em Portugal...ela com os seus putos e eu a dizer--lhe que foi a minha primeira namorada...em frente do marido porque os Angolanos somos verdadeiros....e ela riu-se....e o marido teve que se contentar com o piropo....é que eu conheci primeiro a rapariga do que ele e dei-lhe um BEIJO. lolololololololo

beijo à Zuka e a ti, vou pensar mandar-te um Mero...se gostares com 30 kgs. chega????

RPM

maria said...

este texto tansporta-nos até outros tempos...otempo da inocência e dos amores "platónicos"...E acho que tens toda a razão quando dizes que a vida nos dá sempre uma segunda oportunidade.Se a agarramos, se a queremos e ou devemos agarrar isso é mesma outra questão!

Lua said...

Certas histórias sem final... têm sempre impacto... momentos do baú da nossa vida!!!

Beijinho :)

Helena said...

Pois e quando a vida nos dá essa oportunidade cabe a nós agarra-la ou não, o que nem sempre quer dizer que se a agarrar-mos as coisas mudem...

bjs

Anonymous said...

Ora viva Caro Zuko...

Tem graça, eu também estudei(?) na Eugénio dos Santos e foi talvez a minha emancipação de puto ranhoso para puto desenrascado, pois ganhei uma chave de casa e um passe para transportes.

Também andei por lá embeiçado por uma Joana mas não aconteceu nada demais. Havia uma espécie de código entre os rapazes para "marcar" as raparigas de que se gostava, como se fossem propriedade nossa e nenhum outro rapaz as pudesse conquistar.

Porém, troquei a minha "marcação" nessa Joana por um saco enorme de berlindes e, a partir de então, ela ficou marcada pelo meu colega Rafael. Amigos, amigos, negócios com miúdos à parte.

Caro Zuko, gosto imenso deste seus textos nostálgicos ou, porque não dizer, momentos Espadinha.

Sim, eu sei, que tudo são recordações...

Um abraço...
SHAKERMAKER

JPS said...

RPM: 30 Kilos de mero? Quase do tamanho da Zuka?...
É muito peixe!

MARIA: E mais nada!

LUA: Certas histórias têm impacto porque não têm final...

HELENA: Mudam sempre. São sempre diferentes se não as tivessemos agarrado.

JPS said...

MR SHAKER: Confirma-se!

Quem andou na Eugénio dos Santos e depois no Camões só pode ser boa pessoa! Principalmente quem sabe tão cedo o valor de uma mulher: Uma gaja = a um saco grande de belas.Como tudo seria mais fácil assim...

"Momento Espadinha" é muuuuito bom!
É esse e o "Momento All By Myself" ! :-D

Volte sempre, mas olhe que a gente não o quer só aqui, mas tambem para os lanches.

Aldemira said...

Fizeste-me mesmo recuar no tempo... abrir o baú das memórias, e "prontes"... 1ª "paixoneta", o prof de desenho!!... ai...aii :)
Bonito texto... gostei de te ler... "citizen zuco" :)

Beijo, abraço e assim ;)
Aldemira

Helluah said...

eu nao tive patricia versao masculina. .. para ser mais precisa, so comecei a despertar para a vida depois dos 12, (andar num colegio e tramado!!) mas, mais uma vez, outro movie dos grandes....

Anonymous said...

Que filme de memórias se desenrolou ao ler o teu post... lembrei-me de estar no meio de um grupo de meninas de tótós que corria atrás do Afonso e o obrigavam a subir às árvores para se escapar... Não tinha nenhuma crush pelo Afonso mas pelos vistos ele estava na 'moda'. Pobre rapaz... Infelizmente a minha primeira 'paixão' - ainda que platónica, a primeira - deixou-nos na adolescência num estúpido acidente de mota... ainda hoje guardo a foto dele, pequenina, guardada numa tampa de caneta em forma de coração...

JPS said...

TROCAS E TRICAS: O Prof de desenho??? :-D Bem... para dizer a verdade lembro-me de uma setoura de Matemática e outra de Biologia, já no Liceu Camões...
(E para dizer a verdade, agor aque penso nisso reparo que ambas eram morenas, bem feitas e baixinhas... Hummm... Prenúncios ou a busca de um arquétipo?)

HELLUAH: Eu tambem só comecei aos 12...

STESSADINHA: Ei... Nem sei o que dizer... Mas continua com a memória dele. É uma parte importante de ti.

Sereia said...

A 1ª paixão...ai ai....também concordo que a vida nos dá mais do que uma oportunidade, e nós ou a agarramos ou então...azar!

Como está a Zuka? Beijinhos

Anonymous said...

A Zuca está melhor. Obrigada a todos pelos vossos simpáticos comentários. BJ ZUCA

... said...

Humm histórias sem finais... algo que conheço perfeitamente... E num simples encontro como o olhar é realmente incrivel o filme que a nossa memória projecta. :))

Miauu*

waterfall said...

E eu bem me arrependo de não ter dado "o passo" em detreminados momentos da minha vida!
Gostei da história e do blog!

marco said...

coisas da vida meu caro!!

RPM said...

cumpadri....

como está a minha cumpadri!!!! beijo para a menina e que tudo esteja a correr de feição, como acontecia com os nossos navegadores quando tinham vento bom para os levar a um bom porto...

ao cumpadri Zuko...um vinho do Dão, tinto, reserva, com uma boa tábua de queijos nacionais, sabor forte, curados....

e, claro, um abraço de amizade

RPM

JPS said...

INCONFIDENTE: 5 anos fazem muita diferença...

A SEREIA: A Zuca está bem melhor obrigado. Até já comenta e escreve posts!

ZUCA: Ora viva cara Zuca! É um prazer tê-la por aqui sem ser como leitora.

PRAZERES DO SEXO ORAL: E não dizes?

CATWOMAN: Quem não as conhece? Miauuu!

WATERFALL: Isso é que é uma pena! Mas pode ser que tenhas segunda hipotese!

MARCO: A quem o dizes!

RPM: Olha que rico jantarinho...
A tua comadri (que tambem é uma angolana dos Açores)deu-lhe para escreveri e até fez o post que vem a seguir, vê lá para o que haveria de lhe dar!

Anonymous said...

Bom, a moça só por ser Patrícia devia ser um espectáculo :D
Tb tive momentos desses, o meu primeiro namorado era o Vitó, um molatinho mto fofo, tinhamos quatro anos lol e ele não gostava de fotos, eu passava a vida a dizer, ó Vitó na sejas mauquinhas lol. Mas o giro mesmo é de facto permanecer na fantasia. beijocas

JPS said...

MANEFTA: Era um espectáculo era... Pelo menos é assim que a lembro a 30 anos de distancia...

30 anos? Merda! Tou velho!