30.10.06

Take One
Só o sexo interessa.
De que é que vale investir em relações, abrir o coração, descobrir mundos interiores, se todas estão condenadas à partida? Se todas terminam da mesma maneia, produzindo os mesmos efeitos?
È mesmo assim tão importante encontrarmos a TAL pessoa certa com que é suposto vivermos felizes para sempre, logo a seguir ás letras THE END aparecerem no céu mesmo atrás de nós? Não valerá mais a pena ter uns orgasmos valentes pelos motivos certos, com uma data de pessoas erradas?
Se tudo acaba, se tudo está condenado, nada tem significado para alem deste momento.

Take two
Por que é que reagimos tão mal ao amor?
Se eu insultar, odiar ou bater em alguém obtenho quase de certeza uma resposta do mesmo género. A outra pessoa também é agressiva comigo, também me bate e acabará por me odiar. È uma reacção do mesmo género e tipo, até talvez de uma intensidade maior.
No entanto… Se disser a alguém que a amo, raramente a resposta é ao mesmo nível. Porquê?
Porque é que conseguimos ter uma resposta imediata e adequada à agressividade, mas não temos uma resposta igualmente adequada à afectividade?
Porque é que se eu disser a alguém que é um filho da puta e cabrão de merda me arrisco a receber um murro no nariz, mas se disser a essa mesma pessoa que estou apaixonado por ela e que a amo, nunca recebo um beijo ou um sorriso, mas antes uma cara de “tirem-me desta cena!”

Take Three
Porque é que eu, para ter sexo ou ser amado, eventualmente pelas pessoas erradas e sem motivos certos, tenho de fazer de filho da puta e cabrão de merda? Porque é que pessoas aparentemente racionais e equilibradas, que se conhecem e sabem o que fazem, continuam atrás dum cabrão de merda, ou de uma puta sem alma, que as vai usar como uma aranha usa uma mosca, sabendo (porque não é a primeira vez…) que vão acabar ocas, inertes e deitadas fora?
E porque é que continuam a fazer isso? Parece que não têm o mínimo controle sobre os seus sentimentos…
Ou sou só eu que consigo decidir o que quero sentir?

Take Four
O que é o amor?
Existe mesmo ou é uma coisa que nós julgamos que existe? É algo de físico, determinável, palpável, imediatamente reconhecível (como o medo, por exemplo…) ou é uma ideia que todos julgamos partilhar, mas que no fundo é diferente para cada um?
E porque é que essa ideia é assim tão importante para nós? Porque é que é tão importante sentir-nos amados? Como é que eu posso saber que sou amado? Alguma vez tenho a certeza absoluta? Existem certezas?
Para mim existe uma coisa (eventualmente um eléctrico…) chamada desejo que desde que seja gira, tenha um bom corpo e uma atitude interessante, marcha!
Depois existe outra coisa que tem mais a ver com a personalidade, com a maneira de ser, com a generosidade emocional para comigo que pode dar em amor quando acho que aquela pessoa é diferente de todas, que a nossa relação é especial e quando existe desejo também.
Mas muito sinceramente não sinto o amor como aquelas coisas de se morrer por ele, como gostavam os românticos.
Sei que se não o sentir, não morro.


Parker Lewis actualizado

23.10.06

Os Diários de Guevara

A meio da manhã, já estava no alto da serra, que subi a pé na ultima meia hora, sentado na eira de uma aldeia deserta debruçada sobre um vale com a civilização ao fundo, a roer peras e a passar a minha vida em revista, à procura de padrões.

Padrões de comportamento que tiveram sucesso repetidamente e padrões que não me trouxeram nada de bom.

Todos nós temos padrões de comportamentos que tendemos a repetir em situações semelhantes. Identificar os que não nos satisfazem e corrigi-los é importante para o nosso desenvolvimento pessoal. Por exemplo há pessoas que se atrapalham sempre que conhecem alguém, quando noutras situações não. Porquê? O que é que podem fazer para corrigir isso?

Apontei algumas conclusões. Algumas já me tinham sido dadas, mas uma coisa é ouvir, outra é chegar lá por nós.

- Ter vida própria (aqui vista como uma independência emocional de terceiros)
- Gozar os processos, sem ligar aos fins
- Dizer “Não”.
- Não prescindir do que me dá prazer

Desci e, depois das necessidades das ideias, os prazeres da carne. Grelhada mas não muito, com um arroz de feijão fabuloso e regada por meia garrafa de tinto.

Seja pelas rotundas, seja pelo tinto, o certo é que deixei-me perder calmamente por aquelas estadas. Só sabia que seguia na direcção de Coimbra, aproximadamente. Um muro aqui, uma casa acolá e fiquei com a certeza de que estava naquela estrada. Por isso quando vi a placa “Foz de Arouce”, tive de virar e ir lá.

Em Foz de Arouce há um campo de férias, um sítio isolado do mundo, uma bolha do tempo que só se abre para quem lá tenha estado. Ali, reinos foram construídos, namoros desfeitos, tesouros encontrados, amores descobertos, amizades efémeras juradas para sempre. Ali eu fui feliz.

Ali vi o melhor do que posso ser e a vida que poderia ter.

Vi o passado sem olhos molhados de pena de mim próprio, mas com o reconhecimento de tempos bem passados.

Já podia regressar.

Epilogo:
Pelo caminho parei em todas as áreas de serviço para escrever. Sentia-me revigorado, apesar (ou talvez por isso mesmo…) do esforço físico. Vim a viagem toda sem a necessidade do rádio para encher o carro. O Bogas estava cheio comigo. Sentia-me bem comigo mesmo. Tanto que quando cheguei fui ao cinema (“Dália Negra” é BRUTAL!!!! FABULOSO!!!) e depois passei no Havana para beber um mojito. Espero que Freud me explique esta minha fixação com discotecas começadas por H, o certo é que estive ali sozinho muito bem e acho que isso se notava a avaliar pelos olhares que recebi…

PS: Zuco… Tu és um gajo porreiro para estar contigo, sabes? Tu estás lá!

Parker Lewis actualizado...

20.10.06

7 Anos no Tibete

Take One
Disponibilidade
Disponibilidade é a capacidade de, com autonomia, aceitar ou rejeitar convites, tomar decisões em segundos, de ir, de vir, ou de ficar. Com este, com aquele, com o outro, com ninguém. Connosco.

Take two
Renascer
Há locais que nos marcam, lugares onde as coisas fazem sentido, sítios mágicos onde o Cosmos nos tocou e nós ficámos diferentes. Pontos de um antes e um depois. Terras de peregrinação interior, que só a nós e a quem escolhemos, dizem respeito. Sítios a que voltamos sempre que temos necessidade de renascer.


Take Three
A Viagem
Desde que esta nova fase começou que lá quero ir. Foi sucessivamente adiado, seja por um motivo, seja por outro (e ultimamente tenho conhecido muitos motivos, mas muito poucas razões) mas estava lá sempre, no fundo da minha cabeça a necessidade de lá ir. Talvez soubesse que só lá devia ir na altura certa e que esta ainda não tinha chegada
Neste 3 meses tenho vivido muito depressa, muitas coisas aconteceram, diariamente tudo muda. Tive dias que podiam dar um episodio do “24 Hours”. Não que a mudança me incomode, até pelo contrário, mas acho que já chegou a altura de subir à montanha (literalmente)e olhar lá de cima para o que se passou.
A minha disponibilidade disse-me para lá ir amanhã.
Ao contrário das outras vezes, em que fui em grupo e tive de me encontrar no meio dele, desta vez vou sozinho.
Disponível.

Até segunda!

16.10.06

Intimidade


Domingo de madrugada

Depois de sair da discoteca, apeteceu-me dar-lhe a mão. Estendi-a e ela apertou-a. Sem segundas intenções, simplesmente porque nos apeteceu ir de mão dada pelas docas até ao carro.

Fazia todo o sentido depois do jantar partilhado, dos disparates ditos no carro (O Pujante Bogas começa a ter um clube de fãs tambem...) das horas de conversa, do anel luminoso, de tudo o que se tinha passado.

Sabe bem andar de mão dada. Sentir os dedos entrelaçados, o toque e o calor da pele, os braços juntos, os ombros que se tocam.

Tambem era um contraponto, um manifesto, se quiserem, ao ambiente do mais sórdido e fácil engate que estava lá dentro. O Havai sempre foi um local de engate, mas naquela noite estava completamente demais. E o pior era que eles e elas eram tão ávidos que se tornavam feios. Não havia ali sedução. Era um mercado de corpos, puro e duro.

Por isso fazer aqueles metros de mão dáda com ela, era como dizer que há coisas mais importantes que o sexo.

Sexo é fácil de obter! Bastava eu ter abanado o meu bom aspecto em frente de uma das Shakiras que lá estavam ( com dois bacardis já se vê Shakiras...) durante 3 minutos e a seguir pegar nela e estava feito. Fácil!

Agora aquilo que havia entre nós (o Zuko e a Amiga) é que é dificil de encontrar, de criar e de manter.

É aquilo que procuro, é aquilo que me faz correr, é aquele calor que nos aquece a alma, para alem do sexo e da paixão e que assusta tanta gente.

Intimidade.

12.10.06

Mortal Kombat

Genérico
Há pessoas que julgam que existe uma Grande Conspiração contra elas, que de alguma forma aquilo que lhes é devido (como se houvesse alguma coisa devida nesta vida...) é-lhes sistematicamente roubado por outros. No fundo acham sempre que a culpa é de terceiros, porque são demasiado inseguros para admitir e corrigir os próprios erros.
Quando este pensamento paranóico é apimentado com a necessidade de afirmação masculina, obtém-se um cocktail explosivo, que só a aguarda uma descarga de adrenalina para fazer estalar a fina camada de convenções sociais e partir para a agressão.
E nessa tarde, o cocktail Molotov estava pronto para explodir e eu ia pegar-lhe fogo.

Take one
Domingo á tarde, num estádio raiano
Aqueles 7 tipos tinham passado o dia a armar confusão dentro e fora do campo. Já tinham empurrado um dos meus árbitros, tinham ameaçado outro por presumível arrastar de asa para a namorada de um deles e infelizmente a organização do torneio mando-os passear quando disseram que já não queriam ser arbitrados por nós o que seria um alivio. J
Por isso, quando os jogadores eliminados fizeram uma espécie de invasão de campo por (mais uma vez...) não concordarem com a decisão de um dos árbitros, eu intrevi e, usando os meus poderes de juiz, expulsei da prova esses jogadores por conduta anti-desportiva e com isso acendi o rastilho.

Take two
Rastilho
-Anda cá! – O matulão de olhar de pitbull ficou á minha frente, desafiante. – Onde é que está o teu capitão?
Lá o encontrei no meio das máscaras que rapidamente me rodearam, ao cheiro do sangue.
- Este gajo – disse eu espetando o dedo no peito do pitbull – hoje já não joga mais!
Nesse momento eles explodiram.

Take three
Explosão
Não me consigo lembrar bem do que se passou a seguir. Lembro-me de ter a clara noção de que me iam bater e de que, como eram uns matulões com o físico entre o segurança e o culturista, não valia a pena tentar defender-me da mão que me segurava o pescoço e me empurrou por um momento.
Lembro-me também de não ter uma pinga de medo, o que surpreendeu o miúdo de 10 anos que ainda está dentro de mim e que era aterrorizado pelos matulões da escola.
Virei-lhes as costas e foi até á rede de protecção que delimitava o campo, comunicar a penalização á organização. Eles vieram atrás de mim, como uma alcateia a ladrar e, apesar de estar preparado para isso, nenhum me tocou.

Take four
Estilhaços
Estava eu a dirigir-me para o carro para ir buscar o meu saco para mudar de roupa quando sou interceptado por um gajo de tronco nu e braço tatuado. A perfeita imagem da intimidação macho man. Pega-me no braço, diz que quer falar comigo, mas eu ignoro-o
Se ele quiser bater-me, que me bata! Quero lá saber dele! Estou cansado de 12 horas continuas de trabalho sempre em pé e a correr, quero tomar um banho e mudar de roupa e não tenho tempo para aturar este tipo.
Ele vem atrás de mim a barafustar, e somos seguidos por outros jogadores que o tentam parar e pelos invitáveis mirones.
Mas mais uma vez, o pitbull ladrou, mas não mordeu.
O miúdo de 10 anos tinha vencido o matulão da escola

Genérico final
A frase do dia
- Chamem a GNR que eu pego fogo a isto tudo! :)

4.10.06

Highlander

Take one
Hoje, à pouco
O meu colega deixou-me perto da Avenida de Roma. Passeei por ela ao fim da tarde, como fazia há 20 anos atrás. Inevitavelmente entrei na Barata, aquela hora quase deserta e perdi-me por ali um pouco. Encontrei-me cá fora e fui até à Bertrand.
Acho que alguns dos meus primeiros livros foram comprados lá. Tenho a certeza que a minha primeira Penthouse saiu dali, debaixo dum braço nervoso, rapidamente transportada para o meu quarto.
Depois deste breve passeio olhei em volta. Já estava escuro. Gosto destes fins de tarde de Outono, quando a noite cai de surpresa. Vi duas lojas e um café que já não existiam mas de cujas histórias eu ainda me lembrava.
Segui pela João XXI, até ao Areeiro. A pé.
Voltava para casa a pé, como antigamente.
Andar a pé por Lisboa para mim é uma coisa única. Só assim é que percebemos verdadeiramente onde estamos e por onde andamos. De carro é demasiado rápido, de transportes é muito confuso. Só a pé é que os espaços e os tempos fazerem sentido.
Só a pé é que vi novamente 2 miúdos a dar carolos num terceiro que tinha engatado uma americana. Só a pé é que vi 4 tipos numa mesa de café a combinar a próxima jogada de um Play By Mail. Só a pé é que vi a casa de uma colega de Liceu a quem eu nunca tinha confessado o meu amor.
Só a pé é que me lembrei novamente da pergunta.

Take two
Num Sábado à noite, depois do Melhor Bolo de Chocolate do Mundo

- Mas quanto te lembras disso, não te sentes velho?... – Perguntou ela. Tinha acabado de virar os 30 e aquela noite era a minha prenda de anos para ela.
Aproveitando a janela panorâmica do restaurante sobre o Saldanha, tinha-lhe contado duas histórias separadas por metros e anos, como um exemplo do que agora sinto quando ando por Lisboa. A pergunta era inevitável e foi feita já nas escadas, quando saiamos.
- Não. Sinto-me… com memória. Cheio de memórias. Mas velho não.

Take Three
Hoje, quase a chegar a casa
Tenho memórias que vão mais fundo do que a vida de muitas pessoas com quem me dou. Lembro-me dum tempo antes de elas terem consciência de existirem.
Mas neste crepúsculo, ao chegar a casa, comigo ia não só o passado, mas também o futuro. Sentia-me novamente como o Highlander no topo da colina, aspirando o ar frio da noite que iniciava.

Bem!


Sabem aqueles dias em que nos sentimos bem, mas mesmo, mesmo bem?

Mas mesmo , mesmo bem, assim bem, bem mesmo?

Em que mesmo que se apanhe uma molha, nos sentimos mesmo, mesmo, mesmo bem?

Que acordamos com sono, mas no duche o universo faz sentido e estamos bem, mas mesmo , mesmo , mesmo, mesmo, mesmo bem?

E depois quando andamos meia hora a pé pela cidade, e nos cansamos um bocadinho, estamos bem, mas mesmo, mesmo bem?

E o café na empresa até sabe bem, bem, bem, mesmo?

E o administrador que nunca nos fala até está simpático, mas continua a ser um bem, sei lá?

E prontos, tudo, mas mesmo tudo está bem que até apetece chegar ao topo das escadas e dizer : “I’m king of the world!”

E que estou tão bem, mas mesmo bem, que até era capaz de animar o pessoal que está a trabalhar e se sente mal, mal, mal?

Mas assim, mesmo, mesmo, mesmo, bem?

Sabem? Sabem?

...

È hoje.